O Papa e o dia de guarda

O papa Bento XVI reivindicou este domingo como o “dia do Senhor”, denunciou que este dia se transformou em “fim de semana” na sociedade ocidental, e disse que, embora o tempo livre seja necessário, “se não tiver um centro, que é o encontro com Deus, acaba sendo um tempo perdido”.Bento XVI fez essa declaração na homilia da missa celebrada na Catedral de São Estevão, em Viena. Milhares de pessoas – cerca de 15 mil, segundo a polícia – participaram da cerimônia, a maioria da praça e das ruas adjacentes, sob uma incessante chuva.

O Pontífice começou a homilia lembrando a frase dos primeiros cristãos: sine dominicano non possumus (“sem o dia do Senhor, não podemos viver”). Bento XVI afirmou que as palavras continuam em vigor, já que o homem precisa de um “centro, uma ordem interna e uma relação com Aquele que sustenta nossa vida”.

Segundo o Papa, sem isso a vida está vazia, pois o domingo não é só um dia de preceito para os cristãos, mas uma necessidade. Bento XVI, que durante sua estada na Áustria falou dos problemas que afetam a sociedade ocidental, acrescentou hoje que a “vida desvairada” de hoje “não dá tranqüilidade às pessoas” e acaba “perdida”.


“Em nossa sociedade ocidental, o domingo se transformou em fim de semana, em tempo livre. O tempo livre, especialmente com a pressa com que se vive, é certamente uma coisa necessária”, disse. No entanto, “se esse tempo não tem um centro interior, do qual saia uma orientação, acaba por ser um tempo perdido, que não nos reforça nem nos muda”, acrescentou.

O Papa disse que o domingo tem que ser um dia de gratidão e de alegria pela criação e que, na época atual, “na qual as intervenções do homem colocam o mundo em perigo”, é necessário mais do que nunca dar dimensão a esse dia da semana.

Um dia antes dessas advertências sobre as intervenções do homem na natureza, Bento XVI tinha afirmado, no santuário de Mariazell, 150 km a sudeste de Viena, que, se o homem não distinguir a verdade, a ciência pode destruir o mundo.

O Papa visitou Mariazell na festa da natividade de Nossa Senhora (8 de setembro), e hoje, em homenagem à Virgem, a música que acompanhou o ofício na catedral de São Estevão foi a “Missa Cellensis”, composta por Joseph Haydn em 1782, em homenagem a Maria.

Participaram da missa representantes da Aliança para o Domingo, grupo que procura fazer com que o dia seja reconhecido na Áustria como dia de repouso. Bento XVI deu pessoalmente a comunhão a vários fiéis.

Após a missa, o Pontífice saiu à praça da catedral, onde foi recebido com aplausos e cartazes pelos presentes, aos quais disse que tinha escrito uma oração à Virgem de Mariazell. O Papa recebeu um grupo de crianças, membros da Pontifícia Obra da Infância Missionária, agradecendo por seu trabalho e lhes entregando uma carta.

Bento XVI, que no sábado denunciou os casos de meninos-soldado, destacou em sua carta que há crianças que ainda não conhecem Cristo e que, “infelizmente, há outros muitos privados do necessário para viver, como comida, cuidados médicos e educação”.

Em seguida, o Pontífice rezou o Ângelus na praça da catedral, onde ressaltou que o rito desenvolvido com o “devido decoro” ajuda os fiéis a se conscientizarem da imensa grandeza de Deus, e pediu que os presentes estendam pelo mundo a “doação do domingo”.

Concluída a celebração, o Papa retornou ao palácio arcebispal, onde repousará antes de visitar ainda hoje a abadia de Heiligenkreusz, a mais antiga do mundo, localizada nos arredores de Viena. Depois, o Papa se reunirá com voluntários e, mais tarde, voltará a Roma.

Se no sábado o centro da peregrinação de Bento XVI foi o santuário de Mariazell, hoje foi a catedral de São Estevão, considerada a igreja gótica mais bonita da Áustria, construída no início do século XII.

Destruída por um incêndio em 1258, foi reconstruída no formato de cruz latina e tem 136 m de altura. Em uma das torres da fachada, está o grande sino chamado Pummerin, de 21 t, fundido em 1711 com o bronze dos canhões tomados dos otomanos.


Fonte: O Profeta
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